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A vida da polonesa radicada em Paris, Marie Sklodowska-Curie, não se limitou aos incríveis avanços na área da radioatividade, fenômeno praticamente desconhecido no início do século passado, ou aos dois prêmios Nobel que recebeu. Sua vida pessoal também era bem agitada. Marie foi acusada de ter tido um caso com um homem casado logo após a morte de seu marido – e ainda contou com a manifestação de nada mais nada menos do que Albert Einstein em sua defesa.

Marie Curie e seu marido, Pierre, não eram estranhos à imprensa. Em 1903, a dupla ganhou um Prêmio Nobel “em reconhecimento pelos extraordinários serviços que prestaram por suas pesquisas conjuntas sobre os fenômenos da radiação descobertos pelo professor Henri Becquerel”. O relacionamento deles era feliz, e ambos estavam em pé de igualdade intelectual com o outro. Eles celebraram o Prêmio Nobel juntos e deram continuidade ao trabalho. Porém, depois de alguns anos, aconteceu a tragédia.

Em 1906, o amado marido de Marie Curie morreu em um acidente. Na tarde de 19 de abril, Pierre estava atravessando a rua durante uma tempestade, quando foi atropelado por uma carruagem puxada por cavalos, que levava seis toneladas de uniformes militares. O cientista foi morto instantaneamente. Ainda inconsolável, Marie chegou a recusar a pensão que o governo francês lhe ofereceu, dizendo que ela poderia muito bem sustentar a ela mesma e aos filhos.

Ela voltou a trabalhar logo após a morte de Pierre e ainda assumiu as pesquisas acadêmicas do marido. “Arrasada pelo golpe, eu não me sentia capaz de enfrentar o futuro. Eu não poderia esquecer, no entanto, que o meu marido costumava dizer que, mesmo sem ele, eu deveria continuar o meu trabalho”, escreveu Marie.

Marie tinha apenas 38 anos de idade quando ficou viúva. Pouco tempo depois, se envolveu com Paul Langevin, ex-aluno de seu marido. Um homem brilhante e tão comprometido com a ciência como Pierre era seria capaz de preencher o vazio deixado pelo falecido marido de Marie. Além disso, ele era bonitão e tinha um “próspero bigode”. Como não amar? Havia apenas um problema: ele já era casado.

Curie e Langevin tiveram um relacionamento amoroso mesmo assim. Na realidade, Langevin já estava acostumado a ter relações extraconjugais. Seu casamento não era nem um pouco feliz, e sua esposa supostamente uma vez lhe quebrou uma garrafa na cabeça.

A esposa traída estava consciente das incursões anteriores com outras mulheres, mas algo sobre Curie a enfureceu. Por isso, quando Madame Langevin descobriu que seu marido e sua amante tinha montado um apartamento juntos, onde eles poderiam se encontrar escondido, ela mandou alguém invadir o local. O ladrão levou cartas íntimas do casal, as quais Madame Langevin ameaçou expor ao público caso eles não parassem de se relacionar.

No entanto, de nada adiantou a ameaça da mulher de Langevin. O casal continuou se encontrando, até que, três dias antes de Marie Curie ganhar seu segundo prêmio Nobel, Madame Langevin vazou as cartas para a imprensa, declarando que ela queria dinheiro e a custódia dos filhos do casal Langevin.

Os jornais se deliciaram com a história. Eles pintaram Curie como uma sedutora que tinha atraído um homem de família e o afastado de sua boa esposa e seus amados filhos. Não foi difícil convencer os leitores disso, dado o preconceito da época contra estrangeiros – lembrando que Marie era nativa da Polônia e (provavelmente, não há dados muito precisos) judia.

Os jornais – sempre eles – espalharam os rumores de que o caso tinha começado quando Pierre ainda estava vivo. As alegações, apesar de falsas, mancharam o nome de Marie Curie o suficiente para que o Comitê do Prêmio Nobel lhe pedisse para ficar na França em vez de viajar até a Suécia para aceitar seu prêmio. Imagine só, o que as pessoas pensariam de uma adúltera recebendo uma premiação do próprio rei da Suécia!?

Pausa para a explicação de que o tal rei da Suécia, Gustaf V, não teria moral alguma para recriminar o suposto comportamento infiel de Marie. O próprio foi acusado, anos mais tarde, ainda durante o seu reinado, de também ter um caso com um homem casado. O comerciante Kurt Haijby quis agendar uma audiência com o rei, em 1932, para conseguir o alvará de venda de bebidas alcoólicas para seu restaurante – ele não poderia obter o documento por vias legais porque tinha sido um criminoso condenado. Durante a reunião, Gustaf V teria seduzido Haijby. A esposa do comerciante acabou pedindo o divórcio, citando o relacionamento de seu marido com o rei. No fim das contas, Haijby recebeu 170 mil coroas de suborno para manter o bico fechado. Fim da pausa.

O grande Albert Einstein, por outro lado, se manifestou categoricamente em defesa de Curie, dizendo que ela deveria ir à Suécia, independentemente das (falsas) alegações. “Estou convencido de que você deve desprezar esta gentalha… Se a plebe continua a se ocupar de sua vida, simplesmente pare de ler estes disparates. Deixe isso para as víboras para as quais estas notícias foram feitas”.

E a polêmica não para por aí. A fofoca ainda rendeu um baita duelo travado entre dois editores de jornais rivais: M. Chervet, do periódico “Gil Blas” e Leon Daudet, do “L’Action Française”. Os argumentos giravam em torno da veracidade das acusações de Madame Langevin. A briga realmente chegou às vias de fato: a luta foi travada com espadas e depois de “vários ataques ferozes”, Daudet ficou ferido e os dois se reconciliaram.

Outra discussão quente envolveu o próprio Paul Langevin e Gustave Tery, um jornalista que o chamou de “cafajeste e covarde”. Langevin, que era um homem de não levar desaforo para casa, exigiu que um duelo fosse combatido com pistolas para resolver a questão. O desafio chegou a ser preparado, mas resultou em nada, uma vez que Tery se recusou a atirar, alegando que não queria matar um dos maiores gênios da França. Langevin declarou que ele também não era um assassino e concordou em colocar a arma no chão.

Toda a agitação acerca do affair efetivamente acabou com ele. Langevin e sua esposa foram capazes de resolver suas diferenças fora do tribunal e, posteriormente, se reconciliaram, embora mais tarde Langevin acabasse vindo a ser o pai de um filho ilegítimo com sua secretária.

Embora Marie Curie e Paul Langevin nunca reataram o romance, esse não foi o fim das relações Curie-Langevin. A neta de Marie, Helene Joliot-Curie, acabou se casando com o neto de Paul, Michel Langevin. O matrimônio foi, provavelmente, o suficiente para colocar os pés da vovó Langevin no túmulo – isso se eles já não estavam lá.

Seguindo o conselho de Einstein, Marie viajou para a Suécia, apesar do conselho do comitê, e aceitou seu segundo Prêmio Nobel. Depois, sentou-se na mesma mesa que o rei da Suécia para uma refeição de onze pratos, e tudo ocorreu bem. Ela, a propósito, foi a primeira pessoa – homem ou mulher – a ganhar o Prêmio Nobel por duas vezes.

Além dos dois prêmios Nobel de Marie, o resto de sua família teve a honra de receber outros três: o marido Pierre Curie ganhou um, sua filha Irène Joliot-Curie foi a vencedora do Prêmio Nobel de Química em 1935, junto com o marido, e sua segunda filha era a diretora da Unicef quando a organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1965.

Até o momento, quatro pessoas já ganharam o Nobel duas vezes: Maria Sklodowska-Curie (1903 e 1911, pela descoberta da radioatividade [Física] e, posteriormente, pelo isolamento do elemento químico rádio puro [Química], John Bardeen (1956 e 1972, ambos de Física, pela invenção do transistor e pelo desenvolvimento da Teoria da Supercondutividade, Linus Pauling (1954 e 1962, pela pesquisa sobre a ligação química em termos de substâncias complexas [Química] e pelo ativismo antinuclear [Paz] e Frederick Sanger (1958 e 1980, por descobrir a estrutura da molécula de insulina e inventar um método para determinar as sequências de bases do DNA, ambos prêmios Nobel de Química).

O fim de sua triste história é famoso. Marie Curie, infelizmente, pagou por seu trabalho com a própria vida. Em 1934, ela sucumbiu à leucemia, o resultado da exposição prolongada à radiação. Seus trabalhos, mesmo hoje, ainda são muito radioativos para serem manipulados sem a proteção adequada.

FONTE: CONTER

11/09/13