O festival dedicado aos assuntos da energia nuclear será sediado no Rio de Janeiro, com apresentações online e presencial de filmes
Entre 19 e 29 de maio, a cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) irá recepcionar a 11ª edição do International Uranium Film Festival. Idealizado em 2010, o festival gratuito de filmes é o único no mundo dedicado aos assuntos da energia nuclear, e já realizou mais de 70 mostras internacionais em sete países além do Brasil, como EUA, Alemanha e Índia.
O evento poderá ser acessado online, a partir de sua data de início, disponibilizando todos os 41 filmes que estarão em exibição, entre temas de ficção, documentários, curtas e longas metragens. O festival irá oferecer certificado de horas complementares para estudantes.
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– WhatsApp dos organizadores para mais informações: +55 (21) 97207-6704.
O evento lembrará o acidente radiológico ocorrido na cidade de Goiânia (GO) há 35 anos, em setembro de 1987. Com sua estreia mundial, o diretor goiano Gabriel Leal apresentará o filme “Para não esquecer”, sobre o acidente com Césio-137 na cidade brasileira. Uma das vítimas do acidente, Odesson Ferreira, estará presente na estreia.
(Pôster do filme “Para não esquecer”, do diretor Gabriel Leal)
Confira a entrevista com o diretor da obra:
CONTER: Nos conte sobre o que moveu a iniciativa do projeto.
Gabriel: Eu gostaria, primeiramente, de agradecer a oportunidade e o espaço cedido pelo CONTER para falar sobre meu trabalho, o filme documentário “Para não esquecer”.
Seu lançamento será divido em dois festivais: primeiro, com uma versão reduzida, no importantíssimo International Uranium Film Festival, e a estreia da versão completa no Festival Internacional de Cinema Ambiental, um dos maiores da América Latina sobre o tema, que acontecerá no próximo mês de junho.
O longa-documentário trata de um assunto que, talvez pela distância temporal, esteja cada vez mais esquecido, a tragédia com o Césio-137, em Goiânia, ocorrido em 1987. Eu sou goiano, mas fiz minha graduação em jornalismo na federal de Ouro Preto, morei em Minas Gerais por alguns anos e notei que não só a distância temporal, mas a geográfica também, acabam distanciando as pessoas da história. Por diversas vezes comentei sobre o assunto com os mineiros (e colegas de outros estados também) e, na grande maioria, não conheciam. Normalmente os que conhecem, são pessoas mais velhas e que se recordam, de forma passageira, o que aconteceu.
CONTER: Como se deu o desenvolvimento da produção do documentário?
Gabriel: Quando resolvi pesquisar sobre o tema, me deparei com várias reportagens, notícias e tantos outros materiais, em texto e vídeo, mas que sempre diziam respeito a tragédia e seus fatos, e não tratava do assunto por outras perspectivas que não a jornalística (com a exceção de pouquíssimos trabalhos como o curta-metragem Amarelinha, de Angelo Lima).
Mesmo após meses lendo e assistindo tudo sobre o assunto, eu continuava sentindo a necessidade de ouvir mais sobre a história daquelas pessoas, uma vez que elas não existiram apenas ali em 1987, elas tinham uma vida antes e, algumas, continuaram após a tragédia. Era importante para mim conhecer mais sobre aquelas vidas, para então, ter uma dimensão do que elas sofreram. Com esse pensamento, surgiu a ideia de entrevistar o Odesson, um dos sobreviventes (assim quero chamá-lo), e permitir que ele contasse sobre sua história e a de seus familiares envolvidos. Então, o filme trata do jornalista goiano que vai ouvir a história da catástrofe, não pelos colegas jornalistas, mas pela perspectiva de um sobrevivente que narra tudo. O antes, o durante e o após, pelos olhos de Odesson Ferreira.
CONTER: Qual a sua expectativa com o lançamento do filme?
Gabriel: Eu espero que o filme ajude a humanizar a questão, que deixe de lado, pelo menos por um instante, toda a burocracia informacional e que possamos ouvir os sentimentos dessas pessoas. Espero que o filme ajude o público a ter mais empatia e, mesmo que de forma bem distante, tentar entender essa dor. Espero, também, agora falando mais como jornalista, que trabalhar a memória, para além do contexto de tragédia, ajude a prevenir novas catástrofes. Manter viva a história, pode e deve, sempre, provocar a todos. A tragédia em Goiânia é considerada o maior acidente radiológico ocorrido em área urbana do mundo e que, não esquecendo nunca deste, nós não tenhamos outro.
Mais atrações
O Uranium contará com a presença do diplomata Sergio de Queiroz Duarte, que foi Alto Representante da ONU para assuntos de desarmamento nuclear e representante do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para um bate-papo com o público sobre o risco de uma guerra nuclear, dado o cenário de guerra declarada da Rússia à Ucrânia. Também, haverá uma sessão de filmes atuais sobre o ataque atômico à Hiroshima e Nagasaki.
A estrela do cinema polonês, Lech Majewski estará presente para a exibição de seu filme “Vale dos deuses”, e o filme “Janeiro de 66”, do espanhol Jaime Garcia, terá sua estreia na América Latina com a presença do diretor.
Saiba Mais
Fundado pela socióloga Márcia Gomes e pelo documentarista alemão Norbert Suchanek, o Uranium Film Festival 2022 recebe apoio das Embaixadas da Espanha, França, Polônia, e do Centro Cultural Coreano no Brasil.
Márcia conta o que incentivou a criação do projeto: “A população brasileira de um modo geral ignora os riscos da radioatividade que podem estar presentes no seu cotidiano, correndo o risco de repetir o que aconteceu em Goiânia há décadas atrás, por exemplo. Era necessário popularizar a temática nuclear e nada melhor do que o cinema para fazer isso”. Dois meses antes da primeira edição do festival, aconteceu o acidente nuclear de Fukushima.
Fonte: CONTER